A eficiência na nutrição animal começa muito antes da vaca chegar ao cocho. Cada detalhe na formulação, mistura e fornecimento da dieta reflete diretamente no desempenho e na rentabilidade da produção leiteira. Esse foi o foco da palestra “Da mistura à boca da vaca: qualidade da TMR sem desperdício”, conduzida pelo doutor João Ricardo Pereira na manhã de terça-feira (15), durante o 14º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite (SBSBL), realizado no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC).
Promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet) e pela Epagri, o evento reuniu especialistas e profissionais para discutir desafios e avanços da pecuária leiteira moderna.
Zootecnista e professor adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG/PR), Pereira é reconhecido por unir ciência e prática de campo em suas abordagens sobre nutrição de ruminantes. Durante sua explanação, reforçou que os rebanhos modernos, cada vez mais produtivos, exigem uma alimentação mais precisa e equilibrada.
“Nossos animais estão cada vez mais exigentes, de alta produtividade, e isso demanda uma alimentação de qualidade. Atualmente, a nutrição do gado de leite evoluiu muito, trabalhamos com aminoácidos, vitaminas, aditivos e volumosos, mas é essencial organizar tudo isso da forma correta. Posso ter excelentes ingredientes, mas se forem misturados ou processados de forma inadequada, o resultado não aparece”, explicou.
O pesquisador destacou que muitos problemas nutricionais não estão na formulação, mas na execução. “Quando olho a dieta no papel, ela está certa. O problema está na mistura e na forma de ofertar. O meu objetivo foi mostrar, de maneira prática, como esses detalhes fazem diferença, levando esse tipo de informação para os técnicos que estão no dia a dia das propriedades”, ressaltou.
Com base em dados regionais, Pereira destacou o avanço da pecuária leiteira em Santa Catarina. “Nos últimos 20 anos, o Estado dobrou a produção de leite e reduziu 90 mil vacas. Isso mostra que temos animais de maior produtividade, mas que exigem mais gestão e eficiência do produtor, além de uma nutrição de qualidade superior”, apontou.
Segundo ele, os sistemas de produção estão cada vez mais intensivos, exigindo atenção redobrada à consistência da dieta. “Os animais modernos pedem uma nutrição mais detalhada. Uma vaca precisa consumir 30 quilos de silagem e, ao mesmo tempo, apenas 50 gramas de um determinado aditivo e, ambos são essenciais. É preciso garantir que ela receba tudo na medida certa, daí a importância da qualidade da mistura”, explicou.
Durante a palestra, o especialista também compartilhou práticas e ferramentas que auxiliam na gestão alimentar, com ênfase em controle, mensuração e tecnologia. “Temos aplicativos e sistemas que mostram se a quantidade carregada foi correta, permitem estimar quanto o animal realmente comeu e identificar onde estão os problemas. Esses recursos ajudam o produtor a tomar decisões mais precisas, garantindo eficiência e reduzindo desperdícios”, destacou Pereira.
Encerrando sua apresentação, o zootecnista reforçou que a boa nutrição começa na organização e na gestão. “O sucesso da dieta não depende apenas dos ingredientes, mas de como eles são utilizados. A TMR de qualidade é aquela que entrega exatamente o que foi planejado, nem mais, nem menos. E isso exige técnica, atenção e disciplina no manejo”, concluiu.
AVALIAÇÃO DE PÔSTERES CIENTÍFICOS
Durante a manhã, também ocorreu a avaliação dos pôsteres científicos apresentados na Milk Fair, programação paralela ao 14º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite (SBSBL) e ao 2º Simpósio Catarinense de Pecuária de Leite à Base de Pasto.
Ao todo, 39 trabalhos científicos estão expostos, organizados em oito linhas temáticas. Os autores estiveram presentes para interagir com o público e com a comissão científica, apresentando resultados e trocando experiências.
“A comunicação científica é um dos pilares do SBSBL, que, além de reunir palestrantes nacionais e internacionais, consolida-se como espaço de valorização do conhecimento técnico e científico aplicado à bovinocultura de leite”, destacou o pesquisador da Epagri, Felipe Jochims.
Os resumos aprovados passam por revisão e serão publicados nos anais do evento, além de receberem menções honrosas. Os cinco melhores trabalhos serão convidados a enviar suas versões completas para a Revista Agropecuária Catarinense (RAC), fortalecendo o papel do Simpósio como um ambiente de estímulo à pesquisa e à inovação. A divulgação dos trabalhos escolhidos como destaques desta edição ocorrerá durante o encerramento do evento, nesta quinta-feira (16).