Especialistas pontuaram principais gargalos da cadeia produtiva do leite, panorama do mercado e expectativas econômicas para o setor.
A eficácia na produção leiteira exige uma gestão que associe alta produtividade ao aumento da liquidez. Com essa reflexão, o engenheiro agrônomo doutor em produção animal, Wagner Bescow, abriu o painel sobre eficiência no campo, da última quarta-feira (15), durante 14º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite (SBSBL). O evento é promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet) e pela Epagri, no Centro de Eventos, em Chapecó. Em paralelo ao evento, acontece a 9ª Brasil Sul Milk Fair.
Ser eficiente não é somente olhar para o leite, o pasto ou as instalações, mas identificar o que apresenta o resultado esperado, qual processo gera perdas e onde estão os gargalos da produção para saber com precisão qual é o momento de investir e crescer. “A maioria dos produtores precisam aumentar a renda e a primeira coisa que vem à cabeça é o investimento, que às vezes representa o endividamento. Antes de investir, é preciso cumprir o básico, que é incrementar a renda usando bem o que já tem na propriedade.”
A mão de obra é outro ponto de preocupação, por ser um dos grandes obstáculos da cadeia produtiva. “É cada vez mais difícil encontrar profissionais qualificados e reter esses trabalhadores. E não vejo perspectivas de mudança, por isso questiono: Será que estamos fazendo alguma coisa para mudar esse cenário?”
Para exemplificar a competitividade brasileira na produção de leite da porteira para dentro, o doutor em produção animal mostrou índices comparativos do custo de mão de obra de uma fazenda da Nova Zelândia e uma fazenda do Brasil. Os números mostram que, apesar de a nossa mão de obra ser mais barata, quando se calcula a produtividade desses funcionários, o cenário muda completamente. Enquanto um trabalhador neozelandês, por exemplo, dá conta da ordenha de 150 vacas, aqui o trabalhador ordenha 20 vacas.
Outro gargalo é o custo operacional. “A saída para isso é olhar para a receita, identificar o que está limitando a produtividade. Se eu cortar custos, vou piorar tudo. Nossa vaca tem condições de produzir um volume muito superior ao que estamos extraindo, um potencial genético para entregar muito mais, essa é uma questão chave que deve ser nossa grande preocupação”, destacou.
MERCADO DE LEITE
O economista Glauco Carvalho frisou o cenário atual e perspectivas para o mercado de leite. Dados apresentados pelo especialista revelam que a produção de leite no Brasil ficou praticamente dez anos estagnada, voltou a crescer nos últimos anos e as perspectivas são otimistas para o futuro do setor.
Este cenário de bons resultados se deve especialmente à tecnificação das propriedades, ao melhoramento genético, do pasto e dos volumosos. Um novo contexto, que também trouxe mudanças no perfil do produtor. Levantamento feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostra que os produtores menores estão perdendo espaço, embora ainda sejam muito representativos na oferta de leite, enquanto os grandes têm ganhado mais destaque, impulsionando a concentração da produção no Brasil. Entre as 100 maiores fazendas, a produção média diária de leite mais que dobrou na última década. Somente em 2024, cresceu 13,3%.
“Percebemos um processo de concentração e consolidação de grandes produtores, que estão fazendo grandes investimentos e crescendo na atividade. O ponto principal é que os produtores que têm bons números, bons resultados, uma boa gestão na fazenda, independentemente do tamanho, conseguem ter uma boa rentabilidade na atividade leiteira”, salientou Glauco.
A dinâmica territorial também mudou. As bacias leiteiras que mais cresceram nas últimas décadas foram do Sul, Sudeste e Nordeste, que detém, respectivamente, 28%, 23% e 8% da produtividade. Como a produção se mantem mais concentrada, isso favorece o crescimento de todo um ecossistema e consolidado cada vez mais a eficiência do setor, que agrega toda uma estrutura de profissionais, técnicos, cooperativas e empresas de insumos.
De acordo com o doutor, em valores absolutos o Brasil foi o país do mundo que mais cresceu na evolução da produção de leite. Embora os preços do leite apresentam recuo, os custos com milho e farelo de soja, ingredientes fundamentais na nutrição dos animais, também estão mais baixos.
Além disso, a expectativa é de que o consumo global de lácteos continue a expandir em todo o mundo. “Há boas oportunidades de mercado e a cadeia da bovinocultura de leite vai seguir crescendo”, projetou Glauco.