*Por Marcelo Ferreira
O bem-estar animal (BEA) é um tema que vem ganhando cada vez mais destaque na pecuária moderna. Trata-se não apenas de uma questão ética, mas de um fator essencial para garantir a sustentabilidade ambiental e aumentar a produtividade econômica. Neste artigo, exploro como as boas práticas de BEA beneficiam os animais, o meio ambiente e os produtores, com base nas diretrizes da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável.
De acordo com o Guia de BEA da Mesa Brasileira, que adota a definição da Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH), o bem-estar animal é “o estado físico e mental de um animal em relação às condições em que vive ou morre”. Ou seja, vai além da simples ausência de sofrimento — inclui a promoção de condições que permitam uma vida saudável, confortável e produtiva.
O conceito de BEA evoluiu ao longo do tempo. Inicialmente, as práticas eram guiadas pelas chamadas “Cinco Liberdades”, que visavam eliminar fome, sede, desconforto, dor, medo e permitir o comportamento natural dos animais. Embora revolucionário, esse modelo recebeu críticas por focar apenas em aspectos negativos.
Atualmente, adota-se o modelo dos “Cinco Domínios”, que engloba nutrição, ambiente, saúde, interações comportamentais e estado mental. Essa abordagem mais ampla considera também estados positivos, como prazer, conforto e contentamento.
Portanto, o bem-estar animal deixou de ser apenas uma questão moral: tornou-se uma necessidade para a sustentabilidade da pecuária. Animais bem cuidados são mais saudáveis e produtivos, o que beneficia toda a cadeia produtiva.
Benefícios das Boas Práticas de Bem-estar Animal
Adotar boas práticas de BEA traz benefícios concretos tanto para os animais quanto para os produtores. O Guia da Mesa Brasileira apresenta recomendações práticas para aprimorar o manejo dos bovinos, como:
- Monitoramento constante: Avaliar regularmente a condição corporal, a saúde e o comportamento dos animais permite identificar precocemente possíveis problemas, reduzindo a incidência de doenças e aumentando a eficiência produtiva.
- Cuidados com bezerros: A cura adequada do umbigo e a estimulação tátil nos recém-nascidos diminuem a mortalidade e fortalecem o desenvolvimento. Estudos do Grupo ETCO indicam que essas práticas criam memórias positivas, reduzindo o estresse futuro e facilitando o manejo.
- Métodos de identificação menos agressivos: A substituição da marcação a ferro por tecnologias mais modernas reduz a dor e melhora a rastreabilidade dos animais. Pesquisas lideradas pelo Professor Mateus Paranhos demonstram que métodos humanizados elevam a qualidade do produto final e favorecem toda a cadeia da pecuária.
Paranhos destaca: “Investir em bem-estar animal é investir na qualidade da carne. Animais estressados produzem carne inferior, impactando negativamente o mercado.”
Relação entre Bem-estar Animal e Sustentabilidade
O BEA está diretamente relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, contribuindo para um sistema de produção mais equilibrado e responsável. Veja como ele se conecta a alguns desses objetivos:
- ODS 2 – Fome Zero: Animais saudáveis produzem mais e com melhor qualidade, fortalecendo a segurança alimentar.
- ODS 3 – Saúde e Bem-estar: O BEA reduz a ocorrência de doenças e o uso de antibióticos, colaborando para o combate à resistência antimicrobiana, um desafio global.
- ODS 12 – Produção e Consumo Responsáveis: Práticas éticas atendem à crescente demanda por transparência e responsabilidade na cadeia produtiva.
- ODS 15 – Vida Terrestre: O BEA incentiva manejos que respeitam o meio ambiente, reduzindo a degradação do solo e a poluição gerada por resíduos.
Fernanda Macitelli, especialista em BEA, reforça: “A pecuária sustentável tem no bem-estar animal um de seus pilares. Não há sustentabilidade sem dignidade para os animais.”
Impacto Econômico Positivo do Bem-estar Animal
Investir em bem-estar animal é uma escolha estratégica e inteligente para os produtores. O Guia da Mesa Brasileira e diversos estudos demonstram os ganhos econômicos associados às boas práticas de manejo. Entre os principais impactos, destacam-se:
- Redução de perdas: Animais bem tratados apresentam menor mortalidade e adoecem com menos frequência, reduzindo os custos com tratamentos veterinários e reposição.
- Maior eficiência produtiva: Bovinos com bom BEA ganham peso mais rapidamente e aproveitam melhor os alimentos. Segundo a Embrapa, a produtividade é influenciada pelo desempenho individual e pela taxa de lotação. Sistemas que adotam boas práticas de manejo tendem a apresentar melhores resultados por hectare.
Fonte: Infoteca Embrapa - Valorização dos produtos: Pesquisas mostram que a preocupação com o BEA tem impacto direto na qualidade da carne e na rentabilidade. Consumidores mais exigentes preferem produtos de origem ética, o que agrega valor e aumenta os lucros dos produtores.
Estudos como “Diferenciação por qualidade da carne bovina: a ótica do bem-estar animal” (SciELO) e publicações do Food Safety Brazil reforçam que práticas de BEA, quando aliadas a inovações tecnológicas, resultam em produtos superiores e mais valorizados no mercado.
Assim, os dados comprovam: o bem-estar animal é um investimento, não um custo.
Conclusão: Um Futuro Sustentável e Produtivo
O bem-estar animal é essencial para o futuro da pecuária brasileira. As práticas recomendadas pela Mesa Brasileira, como o modelo dos “Cinco Domínios”, demonstram que cuidar dos animais vai muito além da ética — é uma estratégia para garantir sustentabilidade, produtividade e competitividade.
Animais saudáveis e bem tratados geram menos impactos ambientais e proporcionam maior retorno econômico. Como afirma Janaina Braga:
“A pecuária do futuro equilibra produtividade, sustentabilidade e bem-estar animal. É uma responsabilidade de todos.”
Adotar o BEA é, portanto, um passo fundamental para assegurar que a pecuária brasileira seja ética, lucrativa e preparada para os desafios do presente e do futuro.
*Marcelo Ferreira é executivo da Ceva Saúde Animal e coordenador do GT de Bem-Estar Animal da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável