Por Guilherme Augusto Vieira [1]
A produção de pecuária de corte no Brasil apresentou nos últimos ciclos produtivos uma grande evolução tecnológica no qual se observa uma melhoria na quantidade e qualidade da produção e da carne produzida, principalmente para atender mercados mais exigentes.
O Brasil possui um dos maiores rebanhos de bovinos do mundo. Segundo o Censo Agropecuário o rebanho é de 234,3 milhões de cabeças (IBGE, 2022). De acordo com a ABIEC[2] (2025) no ano de 2024 foram abatidos 46 milhões de cabeças totalizando a produção de 11 milhões de toneladas de carne (TEC), sendo que 8,23 milhões de toneladas são consumidas no mercado interno e 2,77 milhões de toneladas são comercializadas para o mercado externo (150 países), com a China adquirindo 1,23 milhões de toneladas (FORBES AGRO, 2024) .
De acordo com o relatório ABIEC (2025) do total de cabeças abatidas, 8,8 milhões de cabeças (19,2%) são animais produzidos em confinamento, fato comprovado, pois a grande maioria de bovinos produzidos no Brasil é no sistema extensivo e a pasto.
Para atender o mercado chinês, a produção brasileira teve que se adequar aos padrões exigidos, no qual foi denominado de Boi China.
O termo Boi China refere-se aos padrões estabelecidos pelos importadores chineses para aquisição da carne brasileira. Dentre estes critérios, o animal abatido tem que ser jovem (precoce), com a idade máxima de 30 (trinta) meses no momento do abate, possuir quatro dentes incisivos permanentes e atingir o peso de carcaça 18 arrobas. Os frigoríficos pagam bônus de R$ 5,00 a R$ 15,00 por arroba (@) para os animais que atendam às exigências do mercado chinês (Canal Rural, 2020).
Vários fatores no processo produtivo pecuário interferem na produção do animal precoce. Na qual para que possa ser atingida de forma adequada, é preciso entender que ela não pode ser tratada como um fator isolado. A nutrição, o melhoramento genético e a sanidade são fundamentais para que se alcance os objetivos traçados.
Entretanto, a pecuária de corte no Brasil tem sua grande produção na forma extensiva, caracterizando-se por uma produção estacional de forrageiras, alternando pastagens de qualidade no período chuvoso e de baixa qualidade no período seco.
Durante o período seco o valor nutritivo e a produção de gramíneas forrageiras nos trópicos diminuem levando a desnutrição dos animais criados a pasto e consequentemente, baixo ganho de peso, baixo rendimento, abate tardio e menor expressão do seu potencial genético, o que impacta diretamente nos custos e qualidade da produção da pecuária de corte no Brasil .
Diante do quadro apresentado, grande parte da produção brasileira terá que mudar os sistemas de produção para poder atingir os padrões exigidos pela China. O confinamento já é uma realidade e conforme demonstrado tem uma parcela da produção brasileira adotando essa tecnologia, porém os custos de manutenção e implantação são muito altos.
Entre as alternativas de sistemas produtivos, no qual são utilizadas as pastagens são: TIP (terminação intensiva a pasto), O semiconfinamento e o Boi 7.7.7.
A Terminação Intensiva a Pasto (TIP) é uma estratégia de engorda de bovinos que busca maximizar o ganho de peso dos animais em um curto período, combinando a alimentação a pasto com a suplementação concentrada de alto valor nutricional.
O sistema de produção em semiconfinamento consiste na engorda de animais, no qual o produtor utiliza as pastagens como fonte de volumoso e fornece ração concentrada nos cochos dispostos nos piquetes ou invernadas. Atualmente são praticados três tipos de semiconfinamento: animais em terminação, recria de novilhos e novilhas, vacas e novilhas de reposição (Vieira, 2019[3]).
O Boi 7.7.7 é um conceito de produção desenvolvido pela APTA[4], que consiste em abater um bovino de 21 arrobas em até dois anos. O sistema possui os seguintes parâmetros: desmamar o bezerro com 7 arrobas, recriá-lo em até 12 meses, engorda em mais 7 arrobas, e terminá-lo em até quatro meses, quando ele se encontra com mais 7 arrobas, daí deriva o nome Boi 7.7.7. O processo atingirá os objetivos propostos, como o manejo de boa pastagem e suplementação na época da seca, com consumo de diário de ração de até 2% PV.
Ao concluir o artigo evidencia-se que a produção do Boi China caminha na perspectiva de adoções de novos processos produtivos pecuários para produção de animal mais precoce, com ótimo padrão de carcaça e parâmetros para exportação.
A bonificação proposta para aquisição do Boi China torna-se um estímulo para a melhoria do padrão produtivo da pecuária de corte.
Guilherme Augusto Vieira
[1] Médico Veterinário, Doutor em História das Ciências ;Professor Universitário, VeteAgroGestão,. Coordenador das plataformas Farmácia na Fazenda e www.semiconfinamento.com.br, Autor do livro Como montar uma farmácia na fazenda e dos manuais semiconfinamento e confinamento. Contato com autor: Instagram @gvieiraoficial
[2] ABIEC, Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne , disponível in: https://www.abiec.com.br/publicações
[3] Vide Manual Prático de Semiconfinamento de Bovinos, Vieira, G.A.
[4] Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.