Em carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Abiec, que representa os frigoríficos, lista uma série de ações necessárias para o setor ampliar as exportações e agregar valor.
Enquanto comemoram a obtenção pelo Brasil do status sanitário de livre de febre aftosa sem vacinação, os frigoríficos articulam uma agenda conjunta com o governo para acelerar o acesso a mercados importantes para a carne bovina.
Se, por um lado, o desafio agora é o de manter a doença longe do país, por outro, a nova condição internacional abre espaço para o país sentar-se à mesa de negociação com autoridades de nações mais exigentes em protocolos sanitários relacionados à aftosa.
Na sexta-feira (6/6), a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) entregou uma carta em que enumera medidas necessárias para o setor. Representantes da entidade entregaram o documento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de certificação do país por parte da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), em Paris.
A Associação, que reúne empresas com 98% de participação nos embarques de carne bovina brasileira, lista alguns potenciais mercados para o produto:
Japão: o status de livre de aftosa sem vacinação era considerado o último estágio para o Brasil abrir negociações com o mercado japonês para a carne bovina. O governo brasileiro também vê um cenário favorável. Nesta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que discutiu o assunto com o governo japonês, recentemente. E o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o país “já está fazendo verificações” para reconhecer a carne brasileira.
Coreia do Sul: outro mercado que o setor considera com potencial de abertura para a carne brasileira. Na visão da Abiec, o país passa a enxergar o Brasil “sob uma perspectiva sanitária mais favorável, com todas as garantias técnicas já consolidadas”.
Turquia: Para a entidade que representa os frigoríficos, o país está no mesmo patamar de japoneses e sul-coreanos.
Filipinas: Segundo a Abiec, país demonstrou “interesse imediato” na importação de miúdos bovinos.
Indonésia: Outro país que, segundo a entidade, demonstrou “interesse imediato” em miúdos.
Canadá: Assim como filipinos e indonésios, país tem interesse em comprar miúdos bovinos.
México: Potencial abertura para exportação de miúdos bovinos.
China: Inclusão de miúdos e carne com osso, além da revisão do protocolo sanitário bilateral.
Adaptações técnicas e regulatórias
A entidade, em nome de suas associadas, pontua que o novo status sanitário exige adaptações técnicas e regulatórias. “Por isso, colocamos à disposição do governo uma agenda setorial integrada, com foco em ampliar mercados, agregar valor às exportações e reforçar a competitividade do setor”, propõe a entidade. A Abiec lista quatro linhas de ação essenciais para a cadeia produtiva.
Regulamentação do Decreto do Autocontrole: na visão da Abiec, é preciso consolidar as normas que tratam da habilitação de profissionais para inspeção nas plantas industriais. Fiscais agropecuários federais são contra a medida, argumentando que se trata de uma “terceirização” do papel estatal.
Aprovação e apoio ao PL 3179/2024, que trata das horas extras dos auditores fiscais agropecuários: a indústria de carne bovina considera a medida urgente para “garantir a continuidade e o fortalecimento das ações de fiscalização e certificação sanitária”;
Renegociação dos Certificados Sanitários Internacionais (CSIs): A indústria avalia que esses protocolos devem refletir a nova condição do Brasil
Abertura de negociações para exportação de carne com osso e miúdos, “aproveitando as oportunidades geradas com o novo status e a demanda crescente por produtos de maior valor agregado”.
Estratégia e ganho de imagem
Na cerimônia de certificação do Brasil, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, afirmou o status sanitário resulta de uma “estratégia de país” que tem dado certo. Ele mencionou que representantes de 30 empresas do setor estavam presentes no evento.
“Consumimos 70% do que produzimos e exportamos o excedente. Agora, será possível aumentar os mercados. Poderemos vender carne com osso, miúdos, acessar mercados mais exigentes, como o Japão, aumentar a exportação para a Europa. Será um novo momento da pecuária e da indústria, trazendo renda para o interior do país”, disse.
Segundo ele, o certificado da OMSA vai permitir aos frigoríficos brasileiros entregar carne de qualidade no Brasil e mundo afora.
Já Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), disse que a certificação dá “ganho de imagem” ao Brasil e ajuda a fazer justiça social, pela potencial agregação de valor à produção de pequenos criadores no interior do país. Ele salientou ainda que o país “não abre mão da responsabilidade global com a segurança alimentar”.